Todo o mundo está em alerta devido ao coronavírus, inclusive nós aqui da Sankhya. Por isso, fui convidado para falar sobre o tema e como isso pode afetar o mercado brasileiro. Claro que não estamos falando de uma análise aprofundada, apenas algumas percepções e constatações devido aos acontecimentos que vem sendo noticiados. Então vamos lá!?

Você já ouviu falar em “efeito borboleta” ou na “teoria do Caos”? Bom, esses conceitos podem se resumir em uma frase do matemático e meteorologista Edward Lorenz:

“O bater das asas de uma borboleta no Brasil poderia iniciar um tornado no Texas”.

A fundamentação científica está ligada a padrões aparentemente desconexos, mas que se alteram e podem causar impactos imprevisíveis em algum outro lugar. Muitos analistas econômicos têm utilizado essa metáfora de Lorenz para explicar o impacto global causado pelo Coronavírus.

Quais foram os primeiros indícios do coronavírus

Em dezembro de 2019, surgiram os primeiros casos na província de Wuhan, na China. Trata-se  de uma grande região de produção industrial onde vivem mais de 10 milhões de pessoas. Quarentena e paralisação na indústria acabaram levando à falta de componentes específicos para equipamentos eletrônicos, máquinas industriais e automóveis. Além de uma retração do consumo interno chinês.

Investidores assustados começam a tirar seu dinheiro da China e buscar mercados mais confiáveis ao redor do mundo. Países se mobilizaram para retirar seus cidadãos da China, mas a doença já havia se espalhado. No início de março, a Itália vive quadro semelhante, com fechamento de aeroportos, pontos turísticos, barreiras geográficas e isolamento da população. A doença se espalhou globalmente, identificada em mais de 115 regiões do planeta.

Mas quais são os impactos sobre o nosso país? Continue a leitura para entender melhor.

Falta de insumo produtivo para as indústrias brasileiras

A China é um dos principais fabricantes mundiais de componentes eletrônicos presentes em equipamentos baseados em tecnologia de ponta. De aparelhos celulares, passando por automóveis e maquinário moderno para vários setores, a falta de produção chinesa vai impactar na oferta de insumos, levando a um consequente aumento de preços desses componentes. 

Desequilíbrio da balança comercial

A China é um importante parceiro comercial do Brasil e a balança entre os dois países tende a ser prejudicada caso a crise se estenda ainda mais. O Brasil importa componentes, chips de computador, maquinário sofisticado. E exporta alimentos, minérios e grãos, principalmente. O desequilíbrio nas contas internacionais prejudica os indicadores financeiros e torna tanto o mercado chinês quanto o brasileiro, pouco atraentes para os investidores internacionais. 

Impactos do coronavírus no Brasil e nos países desenvolvidos

Por aqui, o número de casos suspeitos cresce e o de casos confirmados continuam sob aparente controle. No entanto, alguns efeitos já começam a ser sentidos e podem impactar as empresas brasileiras. Por isso, é preciso rever seu planejamento e ficar atento aos movimentos globais da economia.

Por enquanto, a única forma conhecida de conter o avanço do Coronavírus é o isolamento, para evitar o contágio em massa. Isso gera impacto no consumo das famílias. Em todo o mundo, na medida em que a doença avança, são impostas restrições à livre circulação de pessoas e mercadorias. Viagens para países com alto índice da doença tem sido canceladas e isso gera impacto em toda a cadeia do turismo, que inclui transporte, hospedagem, alimentação e lazer. O Japão já fala em adiar os Jogos Olímpicos e na Itália, as tradicionais missas do Papa Francisco agora são transmitidas em vídeo.

Cresce o movimento no varejo alimentar, mas a tendência é de queda em restaurantes, opções de lazer, hotéis e destinos turísticos. Toda uma rede de pequenos empreendedores vai sofrer com a retração no consumo. Por outro lado, indústrias de saúde e higiene devem se preparar para crescer em algumas linhas de produtos. 

Outro fator importante, diz respeito à composição da população nesses países. Fazendo uma comparação com outras doenças contagiosas que já surgiram mundialmente, o coronavírus tem uma taxa de disseminação e mortalidade ainda baixa. Entretanto, a peculiaridade do coronavírus é maior na faixa etária considerada de pessoas acima de 50 anos. Quando avaliamos os países desenvolvidos, eles estão em processo de envelhecimento da população, onde aproximadamente 20% a 30% já está em estágio avançado de idade.

Essas pessoas relativamente possuem maior poder aquisitivo e de consumo, e grande parte em cargos de liderança, tanto governamental quanto executiva.  Sendo assim, o medo acaba inibindo o consumo e afetando toda a cadeia produtiva. 

Principais reflexos no Brasil

Os primeiros registros da doença ainda deixam incertezas sobre o que pode acontecer no Brasil. Você e sua empresa podem se preparar e antecipar alguns cenários. A escassez de insumos já acontece em alguns segmentos, mas é possível trabalhar com estoques ou buscar novos fornecedores. Isso deve gerar impacto no preço dos insumos e também de produtos finais.

Acompanhar os principais indicadores de estoque vai ajudar o empreendedor na tomada de decisões. A crise na China parece dar sinais de estar perto do final, mas o país ainda não retomou a normalidade. A China e outros países da Europa são grandes consumidores de produtos brasileiros. Haverá uma quebra de consumo, que alguns setores vão sentir mais, outros menos. 

Historicamente, os produtos chineses são mais competitivos que os brasileiros e os de outros países, devido à políticas de subsídios e ao baixo custo da mão de obra. Ainda não se sabe o impacto que haverá sobre os preços, mas a expectativa é de que aconteça um aumento global até que volte a existir equilíbrio entre oferta e demanda. 

Curiosidade: Até o dia de publicação deste artigo (12/03/2020), o Brasil possuía 69 casos confirmados, sendo 3 no Nordeste, 45 no Sudeste, 2 no Sul, 2 no Centro-oeste e nenhum no Norte.

Como se antecipar aos efeitos: Planejamento

Um dos principais conselhos para gestores brasileiros é de que invistam em planejamento de produção e mantenham a cautela. Notícias que chegam do mundo inteiro mostram que a epidemia ainda não foi controlada e que seus efeitos ainda serão sentidos. O momento é de aguardar, acompanhar os indicadores corporativos com atenção, buscar alternativas de fornecedores e adiar investimentos, mesmo os que já estavam previstos. 

O Governo Brasileiro trabalha na tentativa de minimizar o impacto, mas cabe aos gestores analisar a realidade de seus mercados, buscando informações em fontes confiáveis e dando passos calculados. O coronavírus agrava um quadro que já vinha sendo sentido ao redor do mundo, mas como o governo brasileiro vem sinalizando, é melhor manter o foco, continuar trabalhando e estar preparado para as mudanças que podem ser necessárias. 

Para quem utiliza sistemas de ERP, vale acompanhar ainda mais os indicadores que podem ser impactados pela escassez ou aumento no preço de insumos. Aos exportadores, cabe analisar a expectativa dos mercados futuros e as fronteiras que começam a ser fechadas. A alta do dólar pode ser positiva em alguns segmentos, mas limitar a capacidade de crescimento das que dependem de importação. O momento é de incerteza e exige cautela e informação assertiva.